quinta-feira, 16 de junho de 2011

Lembrança Boa
(Video da Cia Parati no Sertão)

segunda-feira, 30 de maio de 2011



ORQUÍDEAS DO BRASIL ou O DIA QUE FUI FLOR
(23 3 24 de Outubro de 2010)


Severina tinha uma missão super hiper importante: Levar uma carta de Itamar Assumpção para as Orquídeas do Brasil no Sesc Pompéia antes das 21 horas. Ali no Sesc aconteceria um grande show, que fazia parte da programação do Lançamento da Caixa Preta de Itamar Assumpção. Mas é que onde Itamar mora é longe demais e Severina pegou trem errado, trânsito na marginal e quando chegou no Sesc o show já tinha começado. O jeito foi, descer as escadas buzinando e parar o show para que elas pudessem descobrir o que havia dentro da carta. Ainda bem que Severina sempre anda com buzinas e lupas. E foi graças a isso que o bilhete pode ser lido (principalmente pela lupa)

eu ontem tive a impressão
que Deus quis falar comigo
não lhe dei ouvidos

quem sou eu para falar com Deus?
ele que cuide dos seus assuntos
eu cuido dos meus

o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado
(uau! até o leminski ajudou na carta)

Junto da carta havia também uma Fita K7 que Itamar dizia que tinha que ser ouvido. E aquilo era uma declaração de amor. Ele dizia AGORA É QUE SÃO ELAS! E começou o rock and roll. Severina que já tinha cumprido sua missão - ainda que com atraso - não estava fazendo nada mesmo e ficou por ali mesmo, tocando guitarra ao lado de Georgia Branco e batendo cabeça feliz feliz feliz.


Viva ITAMAR ASSUMPÇÃO!
Viva as ORQUÍDEAS DO BRASIL!


Fotos: Marília Chalegre,
Saldanha Mujica e
Alessandra Fratus
SIM ONE SOU



Simone Sou, percuterista, compositora, iogue, batuqueira de fogão e cozinheira de idéias malucas e percussivas resolveu dar um emprego free lancer de GARI para Severina em seu show de lançamento do cd SIM ONE SOU.
Severina não cabia em si de alegria ao distribuir saquinhos plásticos para a platéia que para a sua própria surpresa (e dos curiosos na porta do teatro) virou música.
Severina varreu pés, varreu chão, varreu palco e ainda de quebra brincou de ser percussionista com sua vassoura percussiva, na última música do show com a companhia de Camila Lordy, Marina Uehara, Clara Bastos, Jadna Zimmermann, Isla Jai, Oleg Fateev, Umanto e Xarlô.

Muchas gracias, Sou! É NÓIS pela caminhada!
Somos!

Fotos de Gislaine Costa






sábado, 9 de abril de 2011

Os ventos do Sul

"Estrada de fazer o sonho acontecer"
(Márcio Borges e Lô Borges)

Havia um plano sendo planejado a meses e semanas e dias e horas e minutos segundos. Já era Dezembro, a temporada do verão-pós-festas-de-fim-de-ano estava muito próxima. E no último instante esse plano planejado de meses e semanas e dias e horas e minutos segundos foram embora no trenó do Papai Noel. Mas Papai Noel também deixou um presente, inesperado, mas mesmo assim um PRESENTE. Do plano planejado só ficou o desejo.
Zuza ficaria em São Paulo.
Severina iria ao Sul do Brasil, ao lado de Alderita, Gaiato e Macarena. A partida marcada para o dia 02 de Janeiro de 2011 a Lua quase nova o caderno em branco e muitos quilometros pela frente.
Gaiato e Alderita já nos esperavam por lá. Chovia no encontro, mas tinha um Sol em nós.
Caculé foi quem nos abrigou (apelido muito carinho, porque Caculé só come de colher) e tivemos também a companhia de Gislaine (que depois passou a se chamar Xislaaaine) e Francis (que depois passou a se chamar Francis Gênio ou Francis Romero ou Francinaldo ou Francilene).
E entre ensaios, tapas e beijos, no segundo dia de Florianópolis, Alderita e Macarena resolveram torrar no Sol para ficar "morena sensual" e Gaiato e Severina queriam trabalhar. Caculé deu uma sugestão: Lagoa do Peri.
E lá fomos nós, a pé, porque pensavámos que era perto. E depois de 1 hora de caminhada (ficamos muito mais moreno sensual do que Alderita e Macarena) chegamos.
A Lagoa do Peri é um colírio para os olhos do Palhaços e de toda gente.
Muita gente.
Toda gente.
E nós ali, malas nas mãos, coração na ponta do nariz.
E foi lindo! Quase todo mundo parou para nos ouvir e ver.
Na volta pra casa tentando uma carona, conhecemos Paulo, que pagou nosso ônibus como forma de retribuição por sermos assim, da estrada.
Macarena anunciou que iria pegar a estrada de volta, para encontrar seu caminho. Ficamos tristes com uma partida assim, tão-logo. No dia seguinte iriamos, todos juntos, a labuta.
Fomos vestidos pelo pedaço de estrada que nos levava até a Praia de Armação e fizemos nossa brincadeira, entre a igreja e os ônibus que passavam e nos escondia do público timido que tomava sorvete do outro lado da rua tentando não engasgar com nossas trapalhadas. Alderita quis colocar fogo na igreja, Macarena casou. Severina e Gaiato não entendiam nada.
Missão cumprida.



Conhecemos Susana, uruguai maluca, que nos fez dar muitas risadas. Quando Susana partiu, naquele tão próximo fim de semana, deixou com cada pessoa que passou em seu caminho, uma poesia de Garcia Lorca, que ela escolhia na mesmo hora, e arrancava do livro. A poesia que ganhei se chama "Paisaje de la multitud que orina".

"¡Oh gentes! ¡Oh mujercillas! ¡Oh soldados!
Será preciso viajar por los ojos de los idiotas,
campos libres donde silban las mansas cobras deslumbradas,
paisajes llenos de sepulcros que producen fresquísimas manzanas,
para que venga la luz desmedida"


Ganhamos de presente da vida uma batucada do Uruguai chamada Camdombe no alto das Campanas, uma pedra alta entre céu e mar, Armação e Matadeiro. Que presente!
Macarena seguiu. Nós ficamos.
Cai doente. Três dias de dores e febre. Fui ao médico no terceiro dia e descobri que era sinusite... Escapei da injeção! Ufa! A médica receitou um remédio e sarei 5 minutos depois.



E foi aí que tudo começou. Já era quase noite, Xislaine, Francis e Mari-Alderita ftinham ido bater perna na Lagoa da Conceição. Caculé, Honey-Gaiato e eu Caroline-Severina fomos para Armação, pra que eu pudesse conhecer uns Argetinos que tocavam na rua. Então vi. Então senti. Eu já sabia sem nem saber que ali eu me encontrava e me perdia.
Domingo de Sol o destino foi a Lagoa do Peri, nesse dia teriamos a participação Xislaine do bigode fotografando tudo e todos e de Francis, gênio desenhista, que desenharia os sonhos das crianças enquanto nós Palhaços nos enrolavámos em nós mesmos, tropeçavámos em nossos próprios pés e tentavámos a todo custo fazer sentido (sem sucesso, é claro!) Essa roda, sem dúvida alguma, foi nosso momento mais bonito. Encontro mágico e maluco. Alegria sem fim.Fomos para Armação, resolvemos trabalhar no intervalo do show do El Método. Fizemos uma roda menor, bem menor, porque nos sentimos estranhos, alguma coisa estava fora do lugar. Depois descobrimos, a grande maioria da platéia era da Argetina e não entendia o que a gente falava. Mas mesmo achando que tudo estava estranho, muitas pessoas vieram conversar conosco, e nossos corações ficaram em paz.


Praça XV

Durante a semana, pela manhã, ainda que a madrugada fosse longa, nosso destino era a Praça XV. Se São Pedro ajudasse, é claro. Tem sombra quase na Praça toda e artistas espalhados em todo o seu redor. Chegamos a passar dias inteiros por ali, almoçando pão com queijo e encontrando outros artistas e claro, trabalhando muito. Conhecemos Andrei, que durante um dia todo foi nosso assistente e sempre auxiliava Alderita na missão de tirar e colocar a caixa. Na Praça XV também, Alderita e Severina fizeram uma apresentação com participação especial de Dani Ivan (um amigo da Alderita de São Paulo que nos encontrou na Lagoa da Conceição). E aproveitaram suas pernas fortes para caminhar até o calçadão e enfrentar o sol que não nos polpou. Lá fizemos nossa estréia de banda cover do El Método (em breve, fotos) e conhecemos um trio chamado El Tremedal. Três Argetinos que tocam música do Folclore de lá. Carinho no coração (em breve, vídeo).

Lagoa da Conceição
Nossa primeira e única roda na Lagoa da Conceição veio nos ensinar muitas coisas sobre a insegurança. Quando chegamos o Sol estava a pino, e, diferente da Lagoa do Peri, as pessoas ficavam espalhadas por toda a beira da Lagoa (que é muito grande). Procuramos um lugar onde houvessem mais pessoas. E ali no sentamos e não falavámos nada. Era possível reconhecer o medo em cada um de nós. Até que depois de tempos que não contamos no relógio, resolvemos arriscar. Gaiato montou na sua perna de pau. Alderita e Severina arrumaram as coisas e começamos. De repente, estava cheio, as pessoas sentadas nas suas cangas, sorrindo com amor. Essa platéia foi a mais gostosa que tivemos... Tinha doçura no olhar de cada pessoa ali.
Depois desse dia, todas as nossas tentativas de fazer mais apresentações na Lagoa da Conceição foram por água a baixo, muita muita muita água. São Pedro passou a chorar com mais frequência.

Lagoa do Peri

Lá foi nossa casa mais querida. Lagoa verde, céu azul, gente brincando a vida. Severino sorveteiro era o dono da casa. A gente chegava e ele gritava "HOJE TEM PALHAÇADA?" Sempre tinha uma charada, que nós nunca adivinhávamos. Conhecemos Caroline que não sabia que palhaço ia no dentista. Yan nos ensinou a fazer parada de mão dentro da água e Marina nos ensinou como não chorar quando for tomar injeção: É só pensar em muito sorvete.




Quando nossa travessia por Florianópolis chegava ao fim, São Pedro ficou triste e choveu por 3 dias, era tanta água despencando do céu que quando fomos nos despedir da Lagoa, ela tinha transbordado, nos apresentamos numa ilha e partimos deixando um pedaço nosso ali e um desejo sem fim de voltar.






Tudo e Todo

Florianópolis agora está a muitos km de nós e mesmo assim continua aqui. Envelhecemos anos, voltamos a ser crianças, fizemos coisas de adolescentes. Hoje, somos a soma de tudo isso, hoje nós somos isso. Houve amor e desalento, houve fome e embriaguez, houve encontro e mais encontro. E aqui, continua latente, o desejo de poder voltar e escrever outra história. E ter outra história pra contar!




(LEMBRANÇA BOA: Dona Olímpia, negão (cachorro da dona Olimpia), neta yogue da dona Olimpia, Lyn Vida Loca, Juan maluco, Caculé, Cachorros da Armação, Balada Eterna, Naca, Eugênio, El Método, pessoal do cambombe, Bike do Caculé, Elvis dono da Lan House, dono do bar do Elvis e é claro, a CATUABA!)

Fotos de Gislaine Costa

















segunda-feira, 31 de maio de 2010

Virada Cultural de São Carlos

"Criar raiz
E se arrancar"
("Na Carreira" - Chico Buarque e Edu Lobo)



Caroline
Estrangeira das companhias, minha parada foi na Cia Bubiô FicoLô.
Três intervenções na Praça Coronel Salles, em São Carlos, com um parceiro novo e desconhecido: Dario, o nome dele quando disfarçado de gente. Treco, palhaço-perna-de-pau. Mal deu tempo para “oi, muito prazer” corremos para a Praça, chegamos às 20 horas, a primeira intervenção seria às 20h30min, depois do show do Vanguart.
Troca de roupa, maquiagem, e lá estávamos nós do jeito que gostamos de estar: Severina e Treco estavam prontos. Saímos do camarim assim que o show terminou, e na beira da escadaria, o moço que anunciava as atrações nos viu e com sua humilde voz anunciadora, nos apontou e a praça toda nos olhou: Meu Deus! – tremi toda – o que vai acontecer?
Como todo palhaço cara de pau, não preparamos nada antes, Dario me mostrou coisas que sabia fazer (um tanto bom de mágicas), eu contei a ele as minhas idiotices e tentativas. Era o pulo no abismo.

Severina
Estar ao lado de alguém de 3 metros ou 9,84 pés ou 3,28 jardas, é algo realmente grandioso, no auge do meus 1 metro e 60 centímetros, ninguém me notava.




PhD em TPM, dei um jeito na história e quando percebi havia uma roda em volta de nós. Treco mostrou suas habilidades malabaristicas enquanto eu fazia malabares com minha inabilidade, enrolei todo mundo, é necessário muito preparo, para chegar a esse nível de cara-de-pau. Treco propôs ao público um número muito forte para as emoções: A TRANSFORMAÇÃO. Três homens, bastante gentis, se candidataram para o experimento. Dois deles teriam a nobre função de segurar o pano, evitando que o público ficasse chocado com o que atrás do mesmo, aconteceria. O público não viu, mas eu vi: Vi quando o rapaz gentil começou a criar um cabelo parecido com uma peruca e no lugar de olhos, óculos plásticos parecendo aqueles que encontramos em lojas de 1,99... Foi o tempo das palavras mágicas e o pano caiu e aquela COISA surgiu. Não era mais o rapaz, era outra COISA. Treco intrigado e com Tico e Teco confusos quis porque quis descobrir se a coisa era homem ou mulher ou as duas coisas, e me deu essa função. Dentro da minha super sacola super habitada encontrei então dois paninhos mágicos que me ajudariam nisso... A COISA deveria prosseguir da seguinte forma: Deveria amarrar os dois paninhos com toda a força existente em seu ser, eu colocá-los-ia próximos ao seu coração para que os paninhos pudessem ouvir seus segredos, e os dois assistentes que antes seguravam o panão (tradução: pano grande) tiveram mais uma nobre função: Puxar os paninhos do coração da COISA.
E 1 e 2 e 3
Puxaram.
...
...
Um sutiã?
Os paninhos não só ouviram o segredo do coração da coisa, como trouxeram uma prova de sua feminilidade.
Agradecemos aos voluntários desconversando, escondendo o sutiã e nos despedimos, porque de longe, Treco avistou Ed Motta disfarçado de não ser ele, conversando com os amigos. Depois de um papo breve com Ed e lembranças ao seu papai Tim Maia (viva a licença poética, Caroline diz) descobrimos que haviam mais celebridades pela praça. Encontramos Vanusa tomando coca cola, Jacob (lobisomem do filme Crepúsculo), Marcelo Camelo e Malu Magalhães e até Rauzilto. Foram muitas emoções!
Começou o show do “The Deads Rock” e voltamos ao camarim.



Caroline
Retocar a maquiagem, alongamento, comer uma maça para não perder a voz e não conseguir resistir à brincadeira.

Severina
No camarim ao lado estavam os meninos do Vanguart, Treco me ajudou na missão: Fotografá-los para ganhar dinheiro. Treco tremeu na base, as fotos ficaram tortas e fui flagrada pelo produtor. Em frente ao espelho outra idéia sensacional ocupou meus pensamentos: Tentar fazer parte da banda! Penteado emo-folk-rock-and-roll, uma cadeira disfarçada de guitarra e a coragem. Fiz meus solos mais bonitos e eles não me deram bola, até o momento que surgiu Hélio (vocal, violão, gaita e futuramente trompetista da banda), bastante surpreso com minha habilidade em tocar cadeira, me propôs uma nova banda, de cu jazz, um palavrão conceitual, apostei nele e começamos nosso som. Era impossível não se emocionar com nosso som. Treco ficou nos rodiando, como cachorro olhando o frango girar nas padarias da vida, e no momento preciso: FIIII... Apitou seu apito, e juntos: Hélio e eu, eu e Hélio, descobrimos que era isso que faltava, Treco entrou pra banda. Que alegria. Fizemos mais uma música para a alegria daqueles que sonhavam com a gente (já que ninguém nos notava) e nos despedimos: Essa foi a banda que durou menos tempo na história de toda a música. Com o coração nas pontas dos dedos, acenamos tchau: Já era hora de brincar na praça.



A roda cresceu em gente. Aquela coisa redonda, os olhos em nós, o Hip Hop a todo vapor nas caixas de som, fui mostrar minha habilidades no Break. Ossos travados e músculos torcidos, o público vibrou, queriam mais, era a vez de Treco que não podendo enroscar suas pernas GGMG (grande, grande, muito grande), fez as bolinhas de malabares dançarem.
O que é isso?
Quem são esses?
Dois malabaristas invadiram a roda! Que maravilha. Vieram dançar com suas claves e fazer o público sorrir e quando a gente achava que era o fim, era só o começo: Os garotos (e uma garota) da dança de rua vieram brincar também! Rodavam com a cabeça no chão, faziam coisas que parecia que ia acabar em nó. O público gritou, vibrou, pediu mais e o show “Qual é o seu talento?” acabou numa parceria de Severina (essa que voz fala) e Paulo num desafio de Break. Acabei no chão, dei um nó em mim mesma. Arena limpa do meu corpinho, Treco e suas luzes mágicas emocionaram todo mundo. Partimos outra vez.

Caroline
"Voltar quase sempre é partir
Para um outro lugar"
("Samba do amor", Paulinho da Viola / Elton Medeiros / Hermínio Bello de Carvalho)


Severina
Treco fez uma confusão danada com as pessoas e panos verdes e panos amarelos e bandeira do Brasil. Uma confusão tão confusa que confundiria todos vocês se eu tentasse explicar. E depois de tanto confusão, a hipnose via HI FI que fiz, foi toda atrapalhada, o beijo que deveria ser na minha bochecha, veio parar na minha boca (Valeu Barbudo!!!!!!!!!). Sendo eu uma pessoa séria, guardei meus sorrisos e toda minha alegria e como uma bela francesa, parti para a multidão. O relógio da igreja apitou, a noite já era começo de outro dia. Partimos outra vez, agora uma partida mais melodramática e sonolenta: Era nosso até-outro-dia-se-a-estrada-quiser.
Fiz novos amigos, montei e desmontei uma banda, ganhei novos hematomas. Com minha sacola de feira carregada de lembranças, parti pela estrada feliz da vida, querendo logo chegar a outro lugar pra inventar outras brincadeiras. Que a estrada me queira sempre bem: Caminhante.

Fotos de Mariana Paudarco.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

- “A época do caju chegou.
A época do caju foi embora.
Você não apareceu.
Chorei pensando que não vinha mais.”
(Irma, minha amiga do Vale do Catimbau)


Estou em Recife desde o primeiro dia do ano. Vi a maré encher e a maré baixar por vezes incontáveis, vi a cidade toda começar a se enfeitar para o carnaval, encontrei amigos inesperados e amigos que eu estava cheia de saudade no peito, vi e vivi muitas coisas e dentre essas coisas vi também a Cia Parati pousar nessa cidade que é metade de mim. Entre se adaptar, arrumar, encontrar e caminhar, num dia inesperado eu estava ali, no meio da ‘companhia’ abrindo uma roda no Parque da Jaqueira. Nada combinado: Aconteceu.
Passei a ser uma integrante temporária: Toda inteira, com meu figurino diferente , destoando, desequilibrando, mas junto.



Nos tempos livres, de cara limpa, íamos juntos repensando e refazendo coisas, adaptando, inventando. Ficamos todos os cinco juntos? Qual o desejo de cada um? E se nos separássemos? Pronto!
São dois pra lá e dois pra cá, igual valsa, mas num desses dois cabe mais um: Que era eu.
Divididos e juntos.
Gaiato e Zuza.
Cavaco, Tamis Liudis e Severina.
Fomos para a vida, com a cara (pintada) e a coragem. Era um recomeço para eles e um começão para mim. Aonde tudo isso ia dar?



Em Boa Viagem, aquele casal do prédio ao lado da Praça:
“Vimos da Janela que vocês tinham chegado e descemos correndo. Agora vamos para casa ver o fim da ‘Fazenda’.”



No Parque da Jaqueira, o segurança que para sua ronda e fica sorrindo escondido, depois disfarçadamente continua seu trabalho como se não tivesse encontrado nenhum palhaço no caminho.



E chegou o grande dia! O dia que por mais de um ano, é por mim, o dia mais esperado.
A travessia até o sertão.
De Recife a Buíque.
Com nossas malas e corações partimos.
Marília no volante. Amiga querida, fotógrafa, palhaça de alma.
Primeira parada: Feira de Caruaru. Para uma possível roda que não aconteceu. Pouca gente, muito sol. Almoçamos na casa da Marília, e eu, cai doente. Febre mais quente que o sol, frio que não se sente por aqui. Dormi por duas horas, era preciso partir. Saímos em direção a Pesqueira, cidade que onde mora meu pai.



Com a noite chegando chegamos a Pesqueira, a última cidade do Agreste. Eu, e minha ressaca de febre, não agüentei sair de casa, fui dormir enquanto Anderson, Tâmara e Marília foram desbravar a cidade.



Eles fizeram uma roda e foram até dar uma entrevista na Rádio Comunitária Urubá, isso fiquei sabendo meio sonolenta, quando voltaram para casa.
No dia seguinte, bem cedo, nos arrumamos e enquanto colocávamos nossas bugigangas no carro as crianças da rua da casa do meu pai (no Bairro Central) começaram aparecer. Muitas.



Combinamos com elas que dali uma hora aconteceria uma brincadeira por ali. Fomos para o centro da cidade, demos uma volta pela feira e seguimos para a Praça Jurandir de Brito, Tamis Liudis conseguiu uma carona e nós fomos a pé.



Abrimos uma roda para as pessoas que ficam esperando a Toyota para levá-las de volta ao sítio.



De volta ao Bairro Central meu coração quase parou. As crianças que nos abordaram assim que amanheceu o dia estavam nos esperando na rua, e a maioria delas com o nariz pintado de vermelho, esperando a brincadeira.



O sol já estava de rachar o coco do Palhaço. Em busca de uma sombra encontramos um beco, com uma faixa de sombra, onde as crianças cabiam. E simbora brincar.



Meu coração ficou repleto de alegria, de repente tudo passou a fazer mais sentido do que nunca. A brincadeira só acabou porque Tamis Liudis ficou nervosa e quando fica desse jeito ela não para de soltar pum. Todo mundo correu para se proteger, cada um escondido em sua casa e Tamis Liudis direto para o banheiro.
Coração na mão seguimos em direção ao nosso destino final: Buíque – Vale do Catimbau.
Depois de 1 hora e meia de viagem encontramos a estrada de terra que nos levaria ao Vale... Eu tremia toda. Por quê?
Sim... Em Janeiro do ano passado estive por lá, de cara limpa, para conhecer e encontrar. Fiz dois grandes amigos: Lomé, guia da Reserva do Vale do Catimbau fazedor de mel e Irma de oito anos. Irma foi a melhor companhia no tempo que estive por lá e antes de minha partida me levou ao Cajueiro e me entupiu de caju. Disse a ela que voltaria para o ano.
Voltei exatamente do jeito que queria: Para brincar!
Os 20 km da estrada de terra pareciam não ter fim. Enfim, chegamos.
Corri para ver Irma e quando nos encontramos foi só sorriso e abraço.
- A época do caju chegou. A época do caju foi embora. Você não apareceu. Chorei pensando que não vinha mais.
Não pude dizer nada.
Na parede da casa dela tem pendurada uma foto da Severina que Marília deu de presente a ela quando esteve por lá no Inverno passado.
Passamos a tarde toda juntas, com Marília, Jamile e Lívia também. A brincadeira já tinha começado. E a tarde voou, o sol se acalmava na beira do céu quando Cavaco, Tamis Liudis e Severina saíram para chamar as pessoas até a praça.



Brincamos até a noite cair e tudo ficar bem escuro. As crianças se manifestavam em cada gesto, cada tropeço, cada tapa e nós nos divertíamos tanto quanto elas.



E com a noite nos mandando para casa nossa travessia terminou. Aos poucos e demoradamente as crianças foram voltando para as suas casas. Irma me abraçou com os olhos de lágrimas e levou embora com ela um pedaço grande de mim. Fiquei em silêncio até perder de vista, dentro de mim era um turbilhão. Ali, nas areias do Vale do Catimbau encontrei a mim, o meu caminho, senti a maior alegria que nunca senti e nem sei explicar porque era a soma de tudo de mim, e foi assim, com meu coração repleto de amor que terminou meu ciclo com a Cia Parati.
Obrigada por essa parceria e por essa travessia que juntos fizemos.



Fotos de Marília Chalegre
(postado originalmente em fevereiro de 2010)

Quem é a Cia Parati?
A Cia Parati nasceu com o encontro de quatro amigo-artistas: Anderson Machado, Felipe Andrade, Rafael Napoli e Tâmara Lima, que se conheceram no PFPJ (Programa de Formação de Palhaços para Jovens) dos Doutores da Alegria. Em Dezembro de 2009 eles partiram numa Parati rumo à Paraty no Rio de Janeiro com um espetáculo de rua na bagagem. Ficaram um mês na cidade fazendo apresentações nas praças. Em Janeiro de 2010 partiram para Recife (a Parati ficou para trás) para realizar o mesmo trabalho. E lá nos reencontramos e nos juntamos para essa aventura narrada.
Blog da Cia Parati